Figura Nº1

Frederico Ravioli, 2019


Frederico Ravioli é artista plástico e professor na Arco Escola-Cooperativa. Trabalha com instalações infláveis de lona plástica, esculturas e performance, várias vezes levando seus trabalhos para o interior de manifestações e protestos.

Texto por Frederico Ravioli



Para a Figura Nº1, foi utilizada lona plástica, durex e duas ventoinhas. A obra consistia em dois infláveis que percorriam a casa por caminhos distintos, cada uma nascia no piso inferior, subia as paredes até o piso superior para se encontrarem em dois objetos ovais que se engoliam e se repeliam mutuamente. O inflável transparente tinha origem na cozinha da galeria Olhão e o preto na sala de estar, ambos no 1º andar. Para percorrer esse trajeto, os tubos de ar aproveitaram as saídas de gás e de água construídas pelo arquiteto da casa, pequenos furos quadrados de 15 cm por 15 cm na parede, que permitiram uma integração mais orgânica entre o edifício e a obra.


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Aparentemente invisível por se tratar de ar, a chave do trabalho está na dinâmica particularmente tensa da junção das duas figuras na laje, no engolimento, repulsa e interdependência das duas imagens opostas pela cor. Seu funcionamento se dava da seguinte maneira: as lonas preta e transparente eram infladas por uma ventoinha cada uma que levava o ar por dutos até chegarem nas formas ovaladas dispostas na laje. O inflável preto se inseria dentro do transparente através de um buraco feito no segundo, porém o primeiro também tinha uma abertura na sua extremidade que fazia com que o ar soprado pela ventoinha de pressão pudesse ser expelido para ajudar a inflar a outra forma que o cobria.

Como os dois infláveis tinham furos, eles nunca poderiam atingir a sua plenitude de pressão a não ser que eles fossem os dois simultaneamente tapados. A expansão completa das figuras só pôde se dar porque a bolha transparente, ao inflar, tentava expulsar a preta para fora pela pressão interna produzida e, ao fazer isso, transformava a outra figura não mais num parasita mas numa rolha que permitia vedar seu próprio buraco e inflar a si completamente, e vice-versa. Como se pode imaginar, lona plástica - quase saco de lixo - e durex não são materiais altamente duráveis e resistentes, por vezes o sol e vento que soprava na laje desfazia esse pequeno arranjo e interrompia o equilíbrio existente. Essa desorganização durava até que, depois das intempéries, as duas bolhas pudessem voltar para sua estabilidade momentânea.




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Créditos das imagens:
01, Julia Thompson
02, 03, 04 Lola Aronis



© Duto
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