Lastro

vão, 2019


Fundado em 2013 na cidade de São Paulo, vão é um escritório transdisciplinar cujo trabalho meandra pelos campos da arquitetura, do urbanismo e das artes plásticas nas mais diversas escalas, demandas e contextos. Os projetos tomam como base a fundamentação teórica, técnica e experimental ao investigar características peculiares do território de atuação que possam ser incorporadas ao raciocínio projetual.

Fotografia:
Julia Thompson


 Texto por vão



las·tro


1. NÁUT Qualquer matéria relativamente pesada, como pedras, metal, água etc., levada no porão de um navio ou em tanques, para manter o seu calado ou melhorar o seu equilíbrio.


2. Conjunto de sacos de areia levados por balões e aeróstatos para, com seu despejo, compensar a perda de gás.


3. ECON O ouro que, em um país, garante a circulação fiduciária do papel-moeda.

Definição do dicionário Michaelis da Língua Portuguesa




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Como um homem que caminha sobre a corda bamba, onde a cada passo é necessário reestruturar-se para prosseguir, a instalação Lastro dança rearranjos na cobertura da galeria Olhão na Barra Funda. No contexto de Deslocal, uma exposição de dois dias promovida pela plataforma Duto, o trabalho parte de uma materialidade tão efêmera quanto a duração do evento.


Caibros de madeira, cabos, roldanas e garras de vergalhões dobrados compõem o sistema responsável por suspender os blocos de gelo no ar. A engenhoca é amparada pela empena vizinha, onde o cinza, a sujeira incrustada e as marcas do tempo contrapõem a assepsia branca do espaço expositivo.


Lufadas de vento, raios de sol e o calor gerado pelo movimento dos corpos, ou até mesmo o toque proposital dos visitantes curiosos, são as interferências responsáveis por promover o derretimento desordenado do gelo.

Equilíbrio instável. A fim de manter-se em pé, o sistema busca, de maneira autônoma, compensações e escoramentos na arquitetura da galeria. Um movimento lento e ininterrupto, ainda que nem sempre visível a olhos nus, desdobra, ao longo do dia, a composição inicial em muitas outras.

Caibros a inclinar, cabos a ranger, roldanas e vergalhões a tensionar. Quando perceptíveis as alterações são assistidas com apreensão pelo público: vai ruir?

Da barra sólida às poças d’águas esparramadas, da evaporação que reunifica as poças em matéria invisível. Dos rastros das matérias transformadas, cujos tempos nos escampam do controle.

Sem hora marcada, o colapso.

Caibros tombados, cabos rompidos, roldanas e vergalhões afrouxados. Lastro nos recorda que, ao contrário da constância que a palavra sugere, a estabilidade é um estado em trânsito.



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Créditos das imagens:
01, Henrique Hennies
03 Lola Eronis
05 Vão
02, 04, 07, 08, 09 Julia Thompson


© Duto
© Duto