Trabalhos


Série "leques"

Carla Juaçaba, 2024


Carla Juaçaba nasceu no Rio de Janeiro em 1976. Desde 2000 desenvolve sua prática independente de arquitetura e pesquisa, se envolvendo em programas culturais e projetos privados.

Ganhou a primeira edição do prémio internacional ArcVision Women and Architecture 2013 na Itália, e o primeiro premio do AREA Architectural Review Emerging Architecture Award 2018.

Foi convidada para a Bienal de Arquitetura de Veneza de2018 com o projeto Ballast, e construiu uma das Capelas do Vaticano, o Pavilhão da Santa Sé, que hoje faz parte do patrimônio italiano. Mais recentemente, a maquete do projeto passou a fazer parte da coleção do Musée national d’art moderne de Centre Pompidou em Paris.


foto: Helena Ramos


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Créditos das imagens:
01 Helena Ramos 02 Manuel Sá




Lastro

vão, 2019


Fundado em 2013 na cidade de São Paulo, vão é um escritório transdisciplinar cujo trabalho meandra pelos campos da arquitetura, do urbanismo e das artes plásticas nas mais diversas escalas, demandas e contextos. Os projetos tomam como base a fundamentação teórica, técnica e experimental ao investigar características peculiares do território de atuação que possam ser incorporadas ao raciocínio projetual.

Fotografia:
Julia Thompson


 Texto por vão



las·tro


1. NÁUT Qualquer matéria relativamente pesada, como pedras, metal, água etc., levada no porão de um navio ou em tanques, para manter o seu calado ou melhorar o seu equilíbrio.


2. Conjunto de sacos de areia levados por balões e aeróstatos para, com seu despejo, compensar a perda de gás.


3. ECON O ouro que, em um país, garante a circulação fiduciária do papel-moeda.

Definição do dicionário Michaelis da Língua Portuguesa




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Como um homem que caminha sobre a corda bamba, onde a cada passo é necessário reestruturar-se para prosseguir, a instalação Lastro dança rearranjos na cobertura da galeria Olhão na Barra Funda. No contexto de Deslocal, uma exposição de dois dias promovida pela plataforma Duto, o trabalho parte de uma materialidade tão efêmera quanto a duração do evento.


Caibros de madeira, cabos, roldanas e garras de vergalhões dobrados compõem o sistema responsável por suspender os blocos de gelo no ar. A engenhoca é amparada pela empena vizinha, onde o cinza, a sujeira incrustada e as marcas do tempo contrapõem a assepsia branca do espaço expositivo.


Lufadas de vento, raios de sol e o calor gerado pelo movimento dos corpos, ou até mesmo o toque proposital dos visitantes curiosos, são as interferências responsáveis por promover o derretimento desordenado do gelo.

Equilíbrio instável. A fim de manter-se em pé, o sistema busca, de maneira autônoma, compensações e escoramentos na arquitetura da galeria. Um movimento lento e ininterrupto, ainda que nem sempre visível a olhos nus, desdobra, ao longo do dia, a composição inicial em muitas outras.

Caibros a inclinar, cabos a ranger, roldanas e vergalhões a tensionar. Quando perceptíveis as alterações são assistidas com apreensão pelo público: vai ruir?

Da barra sólida às poças d’águas esparramadas, da evaporação que reunifica as poças em matéria invisível. Dos rastros das matérias transformadas, cujos tempos nos escampam do controle.

Sem hora marcada, o colapso.

Caibros tombados, cabos rompidos, roldanas e vergalhões afrouxados. Lastro nos recorda que, ao contrário da constância que a palavra sugere, a estabilidade é um estado em trânsito.



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Créditos das imagens:
01, Henrique Hennies
03 Lola Eronis
05 Vão
02, 04, 07, 08, 09 Julia Thompson



Casa Americana (homenagem à ciudad abierta)

Maria Noujaim, 2019


O trabalho de Maria Noujaim nasce de movimentos conformados entre escultura e linguagem, com investigações sobre forma e poesia. A partir de uma prática que nasce no corpo e carrega uma espacialidade própria através do uso de materiais e desenhos, a artista frequentemente cria movimentos e registra seus correspondentes simbólicos por meio de aplicações de vinil sobre as paredes, em um processo de espacialização da linguagem corporal. No trabalho com intérpretes, a realização das performances se dá a partir da leitura de um sistema de partituras, ampliando a investigação sobre formas de linguagem.


Texto por Maria Noujaim


Casa Americana é uma construção entre dança e arquitetura a partir dos poemas da ciudad abierta - projeto de arquitetura experimental em Ritoque, no Chile. O processo de um descobrimento poético da América, que funda uma habitação e uma cidade é o mote da ação de duas intérpretes que, a partir de materiais coletados em caçambas do bairro, realizam em gestos a aventura de cobrir e descobrir o espaço.

A relação dos gestos com o poema carrega uma memória — lembranças da passagem por Amereida que se misturam com memórias desse continente inventado. Entendo que lembrar e sempre descobrir a América pode ser um gesto poético, que reconfigura uma imaginação da vida nesse território. Andar, construir, se comunicar, simbolizar uma cidade.

As coordenadas espaciais, as metáforas, os materiais engendram o gesto de construir uma possível morada. Aventura que é ao mesmo tempo barco, ilha, terra firme, casa. Uma ação que fala do horizonte de vários pontos de vista, de quem avança e de quem espera, de quem recebe e de quem se lança.


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Créditos das imagens:
01, 02, 03, 04, 05, Pedro Cunha
06 Marina Lima



Lugares

Metade, 2019


Metade é formado por Ana Tranchesi e Isabella Beneduci e realiza trabalhos que transitam entre contextos da arte, arquitetura, design e teatro, atuando para além dos espaços institucionais. Unindo-se em meados de 2016, a dupla foi contemplada no mesmo ano para a ocasião da chamada aberta de Intervenção Pública do projeto Contracondutas, com o projeto centoeonze. Dedicou-se a este durante dois anos e desde então vem desdobrando e desenvolvendo outros projetos e trabalhos.

Imagem ao lado: Trabalho apresentado durante o evento Deslocal em 2019.  crédito da imagem: Pedro Cunha

 Texto por Metade



Há muitas maneiras pelas quais se pode estar ou se sentir vinculade a um lugar. Um lugar pressupõe características específicas que desenham regras internas. Como negociar com elas? Com sua arquitetura – suas características materiais e discursivas – seus limites físicos e simbólicos. Olhar para o que está em volta, ficar com quem está em volta. Como apontar para outros lugares possíveis para além do contexto o qual estávamos inseridas? Como a arte faz lugar e que lugar é esse? Se é possível pensar na arte como feitura de um lugar, por que não como prática inventiva e propositiva da relação entre lugares? Na coexistência entre, em modos de negociar com.



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Lugares consistiu em um texto corrido ao longo de todo o perímetro do peitoril da laje do Olhão, escrito em fita zebrada de demarcação. Foram dispostas 50 pipas suspensas em uma barra de ferro presa a uma das empenas dos prédios vizinhos. O texto acontecia no espaço de maneira circular, sem estabelecer um início ou fim de leitura, operando por meio de um jogo entre preposições, a palavra lugar e substantivos que sugeriam desdobramentos do sentido de lugar. As pipas continham trechos recortados do texto inscrito no parapeito da laje, uma diferente da outra, e suas rabiolas eram também feitas de fita zebrada.



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Créditos das imagens:
01, 02, 07, desenhos metade
03, 05 Pedro Cunha
04, 06 Eleonora Aronis
08 Julia Thompson



© Duto
© Duto