infinito porque espelha

02 março – 14 abril 2024




Texto por
Olivia Abrahão



Criada a partir da manipulação de lâminas espelhadas, a série leques é a primeira intervenção site specific de Carla Juaçaba no Brasil. As peças, ao se desdobrarem, desvendam diferentes momentos e geometrias, dissolvem figuras, plantas, céu. E esse jogo continuamente reflexivo – que ora conduz o espectador à novas visuais, ora a si próprio – nada mais é do que um convite à convivência entre o público, uma arquiteta contemporânea e uma casa dos anos 1970.

Uma das construções icônicas do arquiteto mineiro Sidonio Porto, a casa se abre ao público pela primeira – e quiçá última – vez. De desenho brutalista em concreto e vidro que a localiza no contexto da chamada Escola Paulista, a residência configura um espaço singular para a intervenção.


Nela, Juaçaba optou por eliminar todos os objetos que remetem ao imaginário de uma casa e transformar o espaço em um enorme, imersivo e relacional “objeto neoconcreto” – não por acaso, a arquiteta tem Lygia Pape, Lygia Clark e outros artistas dos anos 1960 como forte referência. Os planos suspensos unidos por dobradiças, são grandes plissados que fazem um contraponto com a bruta materialidade da construção e conquistam o espaço através da incorporação do observador na obra. Direcionam o olhar e o próprio corpo que caminha ao seu lado e através deles, como se procurasse por desejos escondidos.


Em sua investigação espacial, Carla busca a essência do desenho arquitetônico. As peças reluzentes conformam um amplo caleidoscópio, enaltecem potências espaciais e descobrem formas que sempre estiveram ali, ainda que pouco notadas. Ao rebaterem o vazio espacial revelam a ausência, capturam o silêncio – e, ao admitirem a incidência solar, se permitem refletir.

Por espelharem o que os circunda, os dispositivos se comportam como organismos vivos: a cada hora do dia imprimem uma tonalidade de luz e conformam diferentes jogos de cena, tornando cada experiência única. O jardim, refletido nos espelhos e rebatido pelos vidros, adentra a obra e então a casa, da mesma maneira que uma vegetação selvagem penetra um ambiente abandonado: é como se por um instante a natureza finalmente tomasse conta da arquitetura.


O projeto luminotécnico, também desenhado por Carla Juaçaba, faz da própria casa fonte de luz – ilumina quinas, curvas e ângulos, como lanternas intuitivamente posicionadas, que abrem caminhos inimaginados.


Infinito porque espelha, é uma exposição que versa sobre experimentos, ideias e conceitos que operam entre arte e arquitetura, sobre pontes que podem ser construídas entre temporalidades distintas e distantes. Nela, reside uma situação de diálogo que enfatiza a relação entre eterno e efêmero, vida e memória, calada e escuridão. Ao se refletirem casa e obra se potencializam e, ao transcender o espaço que as envolvem, tornam-se, enfim, infinitas.



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Créditos das imagens:
01 - 10 Camila Alba

© Duto
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